O setor e os profissionais de P&D da indústria de ingredientes representam o coração da inovação nessas empresas. Um celeiro no qual surgem novas ideias, combinações, formulações, reformulações e oportunidades de melhoria e geração de negócio em linha com as exigências dos consumidores modernos. Para isso, novas habilidades do P&D têm sido requeridas.

Hoje, há a necessidade de uma mentalidade e de habilidades orientadas para a inovação, colaboração e geração de valor.  Com isso, essa área e seus profissionais têm obtido cada vez mais visibilidade. Mas quais são as habilidades do P&D que precisam ser desenvolvidas para se destacar no mercado alimentício que está em meio a grandes transformações?

Novas habilidades do P&D para novos desafios da indústria de ingredientes e de alimentos

O objetivo básico da pesquisa e desenvolvimento (P&D) da indústria de ingredientes e alimentos é criar novos produtos e lançá-los com sucesso no mercado, atendendo a regulamentações e aos desejos do consumidor.

Alguns objetivos específicos de P&D estratégico hoje são: reduzir custos; aumentar as propriedades sensoriais que tornam os alimentos mais atraentes; melhorar o valor nutricional para atender às necessidades dietéticas; melhorar a segurança alimentar; adicionar conveniência; alinhar produtos e fórmulas a novas demandas e exigências; conceber soluções para prolongar o shelf life dos produtos; encontrar e desenvolver ingredientes alternativos aos de origem animal, entre outros.

Com isso, as atividades desses profissionais estão cada vez mais diversificadas e complexas, para vencer desafios que demandam soluções cada vez mais rápidas e custo-eficientes. 

Assim, a indústria de alimentos do século 21 exige habilidades do P&D do século 21.

Quais são as novas habilidades do P&D para 2021?

De forma geral, as habilidades cognitivas superiores, como criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe, capacidade de resolução de problemas, tomada de decisões, e aprendizado contínuo ao longo da vida (lifelong learning) estão se tornando cruciais. 

Além disso, habilidades de trabalhar com grandes conjuntos de dados e realizar análises para extrair inteligência dessas informações também deverá ser algo cada vez mais essencial. 

Ainda, entre as habilidades do P&D para 2021, está a de gestão do tempo. Será requerido um uso ainda mais eficaz e focado desse recurso, mobilizando a capacidade de priorizar tarefas, bloquear distrações e compreender a diferença entre urgente e importante.

Outra habilidade fundamental agora e para o futuro é a de trabalho em equipe. Isso não significa necessariamente que o profissional tenha de ser alguém altamente extrovertido, mas sim que consiga trabalhar com outras pessoas para atingir objetivos comuns. Afinal, o P&D da indústria de ingredientes é elemento fundamental para alavancar a inovação da indústria de alimentos acabados. E isso requer colaboração entre áreas e empresas. 

Depoimentos do mercado: quais habilidades do P&D são essenciais neste momento?

Duas especialistas avaliaram esta questão e sintetizaram suas percepções sobre as principais habilidades do P&D para 2021:

Cristina Leonhardt, diretora de Inovação e Marketing da Tacta Food School

“Eu vejo que temos mais um ano marcado por duas habilidades específicas: criatividade e resiliência. É claro que outras habilidades como curiosidade, visão sistêmica e mentalidade de aprendizado continuam importantes, mas os desafios que enfrentaremos em 2021 nos exigirão por um lado criatividade, e por outro resiliência.

Falo de criatividade como esta capacidade de enxergar o mundo de novo, como um novato, e encontrar sentido onde todos vêem o caos – o que no Design se chama de sensemaking. Deixar de se perder na rotina e voltar a enxergar o sentido do que está ao nosso redor, dos sinais que percebemos no mundo e que muitas vezes passam batido, das nuances de mudança que podemos ler nas entrelinhas da sociedade.

Este ‘fazer sentido’ talvez seja muito mais importante do que o ‘propor soluções criativas’, que geralmente é o que vemos como mais ligado à criatividade. Falo isso porque se todos verem os mesmos problemas, as soluções dificilmente serão de fato inovadoras. Quem tem a capacidade de enxergar novos problemas, de rever o mundo, de re-enquadrar o cotidiano, pode perceber muito antes dos demais o que o futuro nos reserva e agir.

Por outro lado, estamos vivendo um momento repleto de desafios e riscos à vida. É uma pandemia, não posso deixar de ressaltar este ponto, somada a ameaças cada vez mais constantes à nossa democracia e instituições. Precisamos de muita resiliência para enfrentar esse momento, para continuar andando mesmo com tanta gente caindo ao nosso lado, para acalmar o coração enlutado, para continuar acreditando no futuro. É claro que resiliência é importante na inovação para quem trabalha com P&D, mas, no momento, ela é importante para a vida como um todo.”

Sara de Araújo Faria, Fundadora e Diretora de P&D e Inovação na Solucionária

“Sempre brinquei, quando ao trabalhar no P&D de uma empresa, a gente trabalha num CSI Chão de Fábrica: cada dia um novo mistério para resolver e essa é uma parte que me encanta muito.

Eu acredito que um bom profissional de P&D possui características em comum com um detetive, visto que ambas as profissões envolvem investigação, estudo, dedicação e determinação. Temos de coletar dados, buscar evidências e chegar em uma solução, uma conclusão.

Uma competência que eu considero essencial é ser um bom questionador. A vida do P&D é cheia de desafios, temos vários problemas para resolver e, para entender esses problemas, temos de fazer várias perguntas. Temos de entrevistar as pessoas que trabalham na empresa, entrevistar os fornecedores, os consumidores. Temos de vivenciar a rotina da empresa, coletar dados, informações. Fazer avaliações, diagnósticos, relatórios. Temos até checklists para preencher e analisar todas as variáveis possíveis.

Portanto, outra competência importante é ser observador. Depois que coletamos várias informações, que estudamos muito, nós temos que formular hipóteses, explicar os fatos, para chegar numa solução, ou melhor, na solução mais adequada. Daí, partimos para a ação, fazemos um teste e sua validação.

Um bom profissional de P&D também deve saber unir a capacidade analítica com a criatividade, tentar achar esse ponto de equilíbrio. Ser multifuncional, gostar de aprender, de pesquisar e de pôr a mão na massa, tanto no sentido literal, quanto no figurado. Tem que entender um pouco de tudo, de tendências, de mercado, de marketing, de regulatório, de documentação, de conceitos de produtos, de produção, de negócios, de processos, de novos ingredientes e novas tecnologias. É ter e querer desenvolver diversos tipos de experiências, conhecimentos e habilidades para trazer os insights mais valiosos para a empresa. É pensar e viver fora da caixa, dentro da caixa, ao redor da caixa, em cima da caixa, saber o quê fazer com essa caixa, como revalorizar essa caixa.

Para 2021, as principais habilidades do P&D que devemos desenvolver são a flexibilidade e empatia. Flexibilidade para lidar bem com todas as adversidades e imprevistos que acontecem tanto na empresa, quanto no mundo. Empatia para desenvolvermos produtos melhores, que realmente tragam benefícios para as pessoas e para o planeta, entendendo as necessidades e desejos da empresa e dos consumidores.”

Para saber mais sobre o tema, leia também o artigo: como ter uma área de Pesquisa e Desenvolvimento de sucesso.