Seja acompanhado por uma taça de vinho ou sendo aquele ingrediente especial nas receitas do dia a dia, o queijo é quase uma unanimidade. Dos tipos mais tradicionais aos mais sofisticados, é difícil encontrar alguém que abra mão deste rico alimento. Segundo a Embrapa, apenas 3% dos brasileiros não consomem algum tipo de queijo, fazendo do produto um dos derivados do leite com maior presença na cesta de compras dos consumidores.

Mas mesmo ocupando posição de destaque, quando comparado a outros mercados, o Brasil ainda tem um bom caminho a percorrer em termos de volume de compra. Segundo histórico da ABIQ (Associação Brasileira da Indústria de Queijos), cada brasileiro consome, anualmente, cerca de 6kg do produto. Em comparação, países europeus consomem mais de 20kg per/capita no mesmo período, enquanto países vizinhos ao Brasil têm média de 10kg/ano por habitante. O brasileiro já deixou claro o seu apetite por diferentes tipos de queijo, mas a indústria ainda pode explorar muito mais o potencial do mercado.

Um dos grandes diferenciais competitivos do queijo é a sua versatilidade. Seja como aperitivo, ingrediente ou servindo como base para sobremesas como cheesecake e romeu e julieta, ele está presente em diferentes momentos de consumo. Isso garante perenidade ao produto, que consegue manter bom desempenho em volume de vendas mesmo em momentos economicamente atípicos. Fora isso, com o avanço da indústria e o surgimento de novos hábitos na população em geral, também surgem novas formas de processamento do produto – conforme a ser explorado adiante.

Desde os queijos cremosos até os duros e semiduros, há uma variedade de opções que podem ser adaptadas ao mercado brasileiro. A exemplo do que é feito nos Estados Unidos e em regiões da Europa, produtores podem investir em porções fracionadas que tragam em uma mesma embalagem variedades do produto, desde os queijos mais simples aos mais elaborados. Essa é uma estratégia que contribui para o posicionamento do produto e do preço e para democratizar o acesso ao alimento – ao mesmo tempo em que serve de porta de entrada para novos consumidores.

Além disso, a demanda por saudabilidade gera reflexos em toda a indústria, e não é diferente para a produção de queijos.  Cada vez mais atento às informações dispostas nos rótulos dos produtos, o consumidor tem demandado da indústria opções que tenham baixo teor de sal e gordura, sendo capazes de equacionar sabor e saúde. A mesma necessidade se aplica ao público vegano, inclusive, que tem pressionado a indústria por produtos igualmente saudáveis e saborosos e com textura igual aos dos queijos de origem animal.

Responder a esta demanda não chega a ser necessariamente complexo, mas depende de investimentos em tecnologias que possibilitem a padronização do queijo, seja ele animal ou vegetal, ao mesmo tempo em que viabilizem a produção em escala industrial. Este é um requisito, inclusive, para produtores querendo entrar em grandes redes varejistas, que em geral exigem determinado grau de homogeneidade do alimento comercializado.

No caso de queijos de origem animal amplamente utilizados como ingredientes, a exemplo da muçarela e do queijo prato, a produção do alimento também abre caminho para a diversificação de portfólio e ganhos em margens de lucro – algo essencial para uma indústria que convive com margens apertadas. A partir do soro do leite, laticínios têm investido na fabricação de produtos com alto teor de proteína, um tipo de produto cada vez mais valorizado pelo consumidor e que durante a pandemia tem sido amplamente utilizado como complemento à alimentação no dia a dia.

Fora isso, com o avanço das tecnologias de processamento e envase, hoje é possível consumir queijo em outros formatos. Recentemente, foi feito o lançamento do primeiro queijo em caixinha do País: o Camponesa, produzido e comercializado pela Embaré, em embalagens da Tetra Pak. O produto conta com tecnologia única de processamento que torna viável a sua distribuição e comercialização em embalagens cartonadas (o processo de coagulação acontece dentro da caixinha, após o envase do produto).

Além de ter inovado ao ser o primeiro queijo em caixinha do país, o novo formato aumenta o tempo de prateleira do produto, equacionando a redução de perdas no varejo com a entrega de um produto de qualidade e de alto valor agregado.

Seja ele animal ou vegano, utilizado como ingrediente ou servindo como um saboroso aperitivo, pouco a pouco os diferentes tipos de queijo disponíveis no mercado brasileiro começam a ganhar o paladar do consumidor. Por trás do potencial brasileiro está a versatilidade do produto, que pode ser consumido em diferentes situações e praticamente em qualquer refeição do dia. Mas explorar esse potencial depende da estratégia de precificação do produto e da capacidade de inovação da indústria ao desenvolver opções saudáveis e de alto valor agregado. No mais, a indústria já está com a faca e o queijo na mão.

*Monica Pieratti é diretora de portfólio para a área de Processamento da Tetra Pak, sendo responsável por toda a região Américas. Formada em Marketing pela Universidade Luterana da Califórnia, a executiva acumula experiência no desenvolvimento de estratégias de negócios em diferentes mercados, inclusive tendo liderado o desenvolvimento de portfólio de produtos para a Tetra Pak globalmente.